O universo cinematográfico é constantemente alimentado por histórias que desafiam o público e geram conversas. De franquias que quebram recordes de bilheteria ao explorar tabus a dramas complexos que buscam reconhecimento na temporada de prêmios, alguns filmes se destacam por sua capacidade de provocar. Um exemplo claro é o fenômeno “Cinquenta Tons de Cinza”, que levou o romance erótico para o grande público, enquanto o novo longa “After the Hunt” navega as águas turbulentas de um escândalo em plena era pós-#MeToo, buscando redefinir sua trajetória rumo ao Oscar.
“Cinquenta Tons”: O Sucesso que Redefiniu um Gênero
Para quem acompanha sucessos como “Minha Culpa”, “Através da Minha Janela” ou “365 Dias”, é impossível não conhecer o impacto de “Cinquenta Tons de Cinza”. A franquia, estrelada por Dakota Johnson e Jamie Dornan, é baseada na trilogia best-seller da autora E.L. James, que curiosamente começou como uma fanfic inspirada em “Crepúsculo”. A saga literária principal, contada sob a perspectiva de Anastasia Steele (Johnson), foi integralmente adaptada para o cinema, simplificando a ordem para os espectadores. Um spin-off com a versão dos fatos segundo Christian Grey (Dornan) existe nos livros, mas não chegou às telas.
A ordem correta para assistir é simples e segue a cronologia das publicações originais. O primeiro filme, “Cinquenta Tons de Cinza” (2015), apresenta Anastasia, uma jovem estudante de literatura que, ao entrevistar o enigmático bilionário Christian Grey para um favor, se vê envolvida em uma atração imediata e avassaladora. A relação entre os dois se aprofunda quando Ana descobre os gostos peculiares de Grey pelo sadomasoquismo, um universo totalmente novo para a inexperiente estudante. O filme deu início a uma trilogia que se tornou um fenômeno cultural e de bilheteria.
“After the Hunt”: A Busca por uma Nova Narrativa em Hollywood
Enquanto “Cinquenta Tons” explorou tabus sexuais, um novo filme de prestígio, “After the Hunt”, mergulha em outro tipo de material complexo. Dirigido por Luca Guadagnino, o longa busca um novo começo no Festival de Cinema de Nova York (NYFF) após uma recepção conturbada no Festival de Veneza. Lá, uma coletiva de imprensa tensa e críticas negativas abalaram as chances do filme na corrida por prêmios. Agora, o diretor e o elenco estelar, composto por Julia Roberts, Andrew Garfield e Ayo Edebiri, tentam redefinir a narrativa em torno da obra.
O filme, que abriu o festival nova-iorquino, tem uma trama desafiadora: Alma (Roberts), uma professora universitária, se vê em meio a um escândalo quando uma de suas melhores alunas (Edebiri) acusa seu amigo e colega Hank (Garfield) de comportamento inadequado. Julia Roberts comentou a complexidade do papel: “Tudo que é natural para Alma, é antinatural para mim como ser humano. Foi interessante tentar encontrar formas de entrar nisso”, creditando o diretor e seus colegas, especialmente Michael Stuhlbarg, que interpreta seu marido, por ajudá-la a construir a personagem.
O Desafio de um Material Delicado e a União do Elenco
Andrew Garfield reforçou a visão de Roberts sobre a complexidade emocional do filme, destacando a importância da camaradagem nos bastidores. “Quando você trabalha com um material que explora os tons mais sombrios da nossa humanidade, precisamos do máximo de leveza e união possível”, afirmou. “Havia um fio que nos conectava no set. Foi uma experiência alegre, pois a capacidade de explorar esses aspectos da nossa humanidade com a segurança de Luca foi profundamente prazerosa.”
Ayo Edebiri, por sua vez, teve a chance de refletir sobre um momento que viralizou em Veneza, quando um jornalista fez uma pergunta pontual sobre a era pós-#MeToo e Black Lives Matter apenas para Roberts e Garfield. Em Nova York, ao ser questionada sobre o episódio, Edebiri ofereceu uma resposta sincera: “Acho que foi um momento muito humano e, de uma forma estranha, uma conversa desconfortável é um dos muitos temas do nosso filme, então palmas para as conexões”.
A Corrida pelo Oscar e a Tentativa de Reenquadramento
Com o objetivo de fortalecer sua campanha para o Oscar — onde Julia Roberts é, segundo especialistas, a maior esperança de indicação do filme, atualmente na 6ª posição entre as candidatas a Melhor Atriz —, a equipe tenta reenquadrar os temas centrais do longa. Para a atriz, em entrevista ao The Hollywood Reporter, “After the Hunt” é, em última análise, “sobre amor e perdão, e sobre tentar entender quem realmente somos por dentro e por que nos comportamos da maneira que fazemos”.
Após a estreia no Alice Tully Hall, a festa do evento se tornou palco para o que o elenco esperava: conversas intensas sobre o filme e as questões provocativas que ele levanta. Resta saber se esse novo burburinho será suficiente para reavivar suas chances na acirrada temporada de premiações.